Gueixa descarnada



Havia um cemitério de pianos
que tocavam só para ti
na fatalidade desta existência
como o vento nas areias

Cada acorde atemorizava
teus olhos espectros de água
tua boca de gueixa.
tinhas os membros pendentes
como estalactites
nas mãos o nó cego, apertado
dum vil obscuro passado...

Quebrou-se o gelo das colinas,
ímpia, cruel e culpada,
tua pele ensanguentada
luz trémula de lamparina.

A noite corria vagarosa
agitados teus cabelos perto do abismo.
teu vestido rubro e poeirento,
que rodava fora da vista,
tacteou... por entre o arvoredo
as rochas e o escremento
tacteou... por entre a vida.

Tinhas feridas expostas, mas não sentias
os dedos eram carne pisada, e tu morrias
no fim da colina um cheiro
a incenso ou velas de altar
falsos choros de clemencias
por entre flores putrefatas
rezas de beatas, cadeiras bambas e bolorentas

E nisto...
um vazio. o nada
na polpa da boca descarnada
no vestido branco de seda...

Comentários

  1. Tens uns poemas mesmo, mesmo lindos!... e este não é excepção... como consegues? Adorei este poema, tem o seu quê de espiritual e lúgubridez, o que me fascina imenso!
    Podes dar uma passadinha no meu blog e comentar os meus poemas?
    Já te adicionei aos meus links e prometo visitar-te mais vezes e ler-te com mais atenção, pois tens imensos poemas líndissimos para eu ler e apreciar! :)

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  2. obrigada pelo comment...
    Tô lendo aqui teu blog, bem bacana, parabéns!
    Tô te linkando, óquei?

    Beijos míu!

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