Come o meu medo,
vil segredo da tua delinquência.
Come a massa viscosa que me cobre
carcaça bolorenta.

Bóiam farrapos da vida,
que uma vez fui...

Vejo-te diante de mim
com o riso e soluço de chacal.
Vejo-te a mastigar
o coração atado junto ao peito.
Não tem cor nem forma
este mal que me escarnece e degrada
de ser carne da tua carne
fortuna desgraçada
de ser escrava cativa
da tua eloquência
alma da tua alma vampiresa.

E depois do sol se pôr,
os meus pensamentos são um exercito
de abutres que rodopiam
na cavidade torácica da tua existência.

Garras em lava que a vítima vigia
garras em lava agarrando a inerte vida.
Devastação secreta do teu bico afiado
como uma navalha talhando
a carne branca e macia.

Sugas-me até aos ossos,
sou apenas pele morta.
Os olhos ja sem viço
num silêncio de pasmo
nesta luta ingrata cada tentativa falhada
atormenta minha mente exposta.

Os vermes que brotam e crescem invisíveis
que comem o meu medo,
comem o sofrimento
de nada restar de mim,
de nada restar do que fui
nem do que um dia seremos...

Comentários

  1. poema muito instigante. belo e denso. meu abraço.

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  2. ...interessante o modo como vc descreve a natureza humana e seus medos.

    bjos e um domingo lindinho prá ti!

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  3. Um poema intenso...
    o medo assume diversas formas, com o tempo a vida vai comendo-o aos pouquinhos...

    Obrigada pelo comentário no mello.

    Beijinhos,

    Graça Mello

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