Violeta de Parma




Sou um vegeto das ruínas
o meu ser
sente o mastigar de cada hora
por entre o céu descoberto
o anoitecer

Vermes rastejam
fogem de mim com asco
bebo o absinto
das lápides murmurantes
dos ciprestes que tornam em silêncio
o lirismo impuro
os sentimentos tépidos
de cada segundo...

Sou filha dum tédio, duma dor qualquer
por entre sonhos horrivelmente histéricos
jardins fantasmagóricos
e obsessões...

Os resquícios de minh'alma
evaporam como fumaça
e nos meus lábios aflora a tísica
roxa e inefável melancolia...

Sou transparência de morte, magreza hirta.
por entre a palidez clorótica,
desta noite de afronta e solidão
e nos conventos abandonados de minh'alma
sou brilho cru, agudo e febril
sugando os cansaços mornos de uma vida
leve bater de asas de cotovia...

Sobre o vazio, sobre o nada
sou desdenhosa ilusão da eternidade
minha boca acidentada
por entre os dedos esticados
e manchas de realidade.

Sou corpo cadavérico
deixado ao acaso
Sou gravação vaporosa
violeta de Parma
flor dolente e venenosa
Já sinto emurchecer na alma
as pétalas de um sonho...

já eu não sou! ...na cova escura...
já eu não sou!...defunta




( Este poema bebe das palavras de José Duro, mas especificamente do seu poema "Doente", uma longa confissão de amargura e desespero de um jovem a beira da morte.)

Comentários

  1. Eu não disse?! Eu disse que o que viesse de si ia ser bom.
    Adorei a sua escrita. Adorei este poema. Obrigada por me ter contactado.
    Continue. Tem muito para dar ao mundo.
    Um abraço.
    Susana B.

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