Negra
Eras negra cativa
espaço de deleito e pecado
tua pele santa e tentadora, de mulher.
teu corpo estilhaçado
num colchão de palha tombado
pronto a satisfazer.
Tinhas os olhos cerrados
esses diamantes raros,
nunca mais avistaram a luz.
Tinhas a alma cadavérica,
gritando por piedade
enquanto o pensamento voava
tal e qual uma borboleta
junto ao rio pousava
na tua mão de mãe, de irmã,
de filha, de neta de alguém,
na tua mão de criança.
Escorriam-te dos olhos as gotas da fobia
suores frios e trémulos, apoderaram-se de ti
tinhas um crucifixo pendente do peito
a boca manchada de sal e fel
enquanto gotas de sangue caiam
das tuas mãos apertadas
da tua boca cerrada
do teu útero de mulher
Vieram do nada, de terras malditas
aqueles seres uivantes, sedentes de desejo
aqueles seres rastejantes, arfando imundície.
esfregando a pele sebosa e dita cristã
roçando testículos cheiro a escremento
ejaculando vermes de desalento
em teu corpo pequenino, em teu corpo indefeso
salivavam nas tuas ancas que nem cães
agarrados a um osso...
puxavam-te os cabelos, arranhavam-te os braços
pendestes no chão...
Teu seio amoroso, rasgado, dentes em lava
teu seio virgem, despedaçado...
olhos semi-cerrados, espumantes de prazer
olhos esbugalhados vertendo delirios
olhos verde água, olhos dum branco...cheio de tesão
olhos dum branco sem escrupulos, nem coração
Sentiste cada movimento, em teu ventre...
cada brutalidade viril dum macho nojento
tinhas as pernas bambas descaidas
tinhas os braços tombados, ja sem vida
morreste antes da navalha te degolar
e o sangue quente jorrar
do teu pescoço de gazela...
morreste... e ninguém estava para velar
a tua morte... ninguém quis saber o teu nome
ninguém sabia quem tu eras...
.
espaço de deleito e pecado
tua pele santa e tentadora, de mulher.
teu corpo estilhaçado
num colchão de palha tombado
pronto a satisfazer.
Tinhas os olhos cerrados
esses diamantes raros,
nunca mais avistaram a luz.
Tinhas a alma cadavérica,
gritando por piedade
enquanto o pensamento voava
tal e qual uma borboleta
junto ao rio pousava
na tua mão de mãe, de irmã,
de filha, de neta de alguém,
na tua mão de criança.
Escorriam-te dos olhos as gotas da fobia
suores frios e trémulos, apoderaram-se de ti
tinhas um crucifixo pendente do peito
a boca manchada de sal e fel
enquanto gotas de sangue caiam
das tuas mãos apertadas
da tua boca cerrada
do teu útero de mulher
Vieram do nada, de terras malditas
aqueles seres uivantes, sedentes de desejo
aqueles seres rastejantes, arfando imundície.
esfregando a pele sebosa e dita cristã
roçando testículos cheiro a escremento
ejaculando vermes de desalento
em teu corpo pequenino, em teu corpo indefeso
salivavam nas tuas ancas que nem cães
agarrados a um osso...
puxavam-te os cabelos, arranhavam-te os braços
pendestes no chão...
Teu seio amoroso, rasgado, dentes em lava
teu seio virgem, despedaçado...
olhos semi-cerrados, espumantes de prazer
olhos esbugalhados vertendo delirios
olhos verde água, olhos dum branco...cheio de tesão
olhos dum branco sem escrupulos, nem coração
Sentiste cada movimento, em teu ventre...
cada brutalidade viril dum macho nojento
tinhas as pernas bambas descaidas
tinhas os braços tombados, ja sem vida
morreste antes da navalha te degolar
e o sangue quente jorrar
do teu pescoço de gazela...
morreste... e ninguém estava para velar
a tua morte... ninguém quis saber o teu nome
ninguém sabia quem tu eras...
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Fantástico Barbara!...um tremendo texto...uma realidade que conheci...és uma escriba de mão cheia...que talento...
ResponderEliminarDevemos levar a peça de minha autoria "O Povo do Arco-Íris" ao funchal integrada nas comemorações dos 500anos.
faço questão de te ter lá
Doce beijo
Trémulas as palavras são,
ResponderEliminarO contexto é bárbaro
Expressar desolação
É pouco. A negra precissava de amparo,
Mas ninguém foi a sua salvação.
Quiseram-na nua e, sem descaro,
Despejaram arpejos, violação,
Vil cobardia de homem claro
Que exala nojenta podridão.
Parabéns pelo poema. Simplesmente, arrepiante, tal como o conto do António. Poucas são as palavras para verter o poderio dos teus versos, mas fica a certeza que esta "Negra" enegrece a raiva que nutro por todos os asquerosos que se apoderam de mulheres indefesas.
Cumprimentos poéticos,
Natália Bonito
vigoroso e sensível. um texto extraordinário. meu abraço.
ResponderEliminarPoetisa!
ResponderEliminarAdorei o poema. mais uma vez, adorei adorei! Está tão forte, tão belo, e tão real!
Bárbara
ResponderEliminarTal como referiu a Natália é deveras arripiante. Tenho preparado para publicar um texto chamado "Mãe Negra". Já sabe por que sou sensível a este tema.
O retrato poético é de uma intensidade incrível. Adorei.
Beijinhos
António
Adorei o teu poema! Fantástico! Mas infelizmente isso acontece. Pessoas que proclamam que as pessoas de raça negra são inferiores e depois cometem estas atrocidades a elas. Gente estúpida e covarde!
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